Sítio Arqueológico Capão Alto

Sítio Arqueológico Capão Alto

O Sítio Arqueológico Capão Alto (RS-LN-19), mais conhecido como Sambaqui de
Xangri-lá e Morro dos Índios, é um local de interesse da arqueologia onde são
encontrados vestígios materiais deixados por grupos humanos que habitaram a
região. Localizado no município de Xangri-lá, entre as ruas Rio dos Índios, Rio
Apucaé e Rio Camisas, este sítio faz parte de um conjunto de outros sambaquis
distribuídos ao longo do litoral brasileiro e do Rio Grande do Sul. Por exemplo,
temos os Sítios Arqueológicos Marambaia em Arroio do Sal, que também são
classificados como Sambaquis.

Foto 01: Registro do sambaqui Capão Alto em 1966, com a cidade de
Xangri-lá ao fundo.
Fonte: Acervo do Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (Marsul).

Os sambaquis, sítios arqueológicos característicos das regiões costeiras do
Brasil, são formados ao longo de milhares de anos por acúmulos de conchas,
restos de alimentos, ferramentas de pedra e outros materiais orgânicos deixados
por grupos humanos pré-coloniais. Esses sítios são preciosos registros da cultura
das antigas populações litorâneas no Rio Grande do Sul e do Brasil.

Os Sambaquieiros tinham o estilo de vida intimamente ligado ao ambiente
marinho, obtendo a maior parte de sua subsistência através da pesca, coleta de
moluscos, mariscos e outros frutos do mar. Suas comunidades costumavam se
estabelecer em áreas próximas ao litoral, onde tinham fácil acesso aos recursos
marinhos.

No sítio Capão alto, especificamente, foram encontrados fragmentos de
ferramentas de pedra, cerâmicos e ósseos no contexto do sambaqui. Entretanto,
não foram os únicos registros observados no contexto arqueológico, pois também
foram identificados vestígios que indicaram a ocupação de um grupo de pessoas
chamados de “Horticultores do planalto”. Esses povos praticavam a domesticação
de certas plantas para garantir sua subsistência e aproveitavam os recursos
ambientais disponíveis através da exploração sazonal. Eles adotavam um estilo
de vida comunitário em aldeias, empregando técnicas específicas na confecção
de cerâmica, que incluíam padrões decorativos distintos. Essas cerâmicas foram
categorizadas em duas tradições arqueológicas relacionadas às tradições
Taquara e Tupi-Guarani.

Foto 02: Registro da parte frontal do sítio Capão Alto.
Fonte: Associação Comunitária da Praia de Xangri-lá, 1984.

As informações sobre os vestígios, são resultado de pesquisas e escavações
arqueológicas. As escavações são procedimentos sistemáticos feitos em sítios
arqueológicos para encontrar e registrar artefatos, construções e outras
evidências materiais da cultura humana antiga.

Fotos 03 e 04: Registro a direita mostra o sambaqui de Xangri-lá e o da esquerda a dispersão
superficial das conchas, ambos em 1993.
Fonte: Luiz Antônio Bolcato Custódio, Coordenador Nacional/IPBC em 1993.

No entanto, a prática de escavação arqueológica é essencialmente destrutiva,
uma vez que, após a intervenção, o contexto é irreversivelmente alterado. Isso
significa que os arqueólogos devem extrair o máximo de informações durante o
processo de escavação, tornando fundamental que essas atividades em sítios
arqueológicos sejam conduzidas exclusivamente por profissionais devidamente
treinados, a fim de evitar a perda de dados.
As primeiras escavações sistemáticas no sítio Capão Alto foram realizadas na
década de 1960, liderada pelo arqueólogo Eurico Theofilo Miller, do Museu
Arqueológico do Rio Grande do Sul - MARSUL. Foi durante essa intervenção que
o sítio foi documentado e nomeado como "Capão Alto". Em sua pesquisa, ele
relatou indícios de destruição de sepulturas e saques de material superficial. Entre
os artefatos arqueológicos encontrados nessa campanha, destacam-se
fragmentos de cerâmica e ferramentas de pedra, tais como machados polidos,
quebra-cocos, batedores, polidores, pedras polidas, lascas, núcleos e pedaços
de grés polidos.

Fotos 05 e 06: Registro da escavação efetuada por Eurico Miller em 1966 no sítio
arqueológico Capão Alto.
Fonte: Acervo do Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (Marsul).

A primeira publicação específica sobre o sambaqui de Xangri-lá foi feita por Pedro
Augusto Mentz Ribeiro (1982), que o visitou pela primeira vez em 1968. Ele relata,
na ocasião, a presença e "destruição de numerosos esqueletos humanos", além
de mencionar a presença de cerâmica das tradições Tupiguarani e Taquara. O
autor menciona coletas de superfície realizadas em visitas anuais a partir de
1968, sugerindo a existência de uma coleção cerâmica deste sítio no
CEPA/UNISC, em Santa Cruz do Sul. Também é relatado um zoólito que teria
origem neste sambaqui, uma peça esculpida em rocha basáltica que evoca um
"peixe estilizado", em posse de um residente local.

Fotos 07 e 08: Duas faces do vestígio arqueológico “zoólito”, associado a uma tartaruga.
Fonte: Acervo da Universidade Feevale, acessado em 2024.

Além do saque de artefatos arqueológicos por visitantes, o Sambaqui Capão Alto
enfrentou várias outras formas de intervenção destrutiva ao longo dos anos. Entre
elas está a utilização do espaço para a criação de animais, o que representa uma
ameaça significativa aos vestígios arqueológicos devido à compactação do solo
e à perturbação das camadas. Além disso, o crescimento urbano desenfreado
ameaça o sítio, podendo levar a uma urbanização caótica e a sua deterioração.

Fotos 09 e 10: Registros mostram a ação antrópica no sambaqui de Xangri-lá, em 1993.
Fonte: Luiz Antônio Bolcato Custódio, Coordenador Nacional/IPBC em 1993.

Tendo em vista o desenvolvimento urbano na região, em março de 1981, a
Associação Comunitária da Praia de Xangri-lá denunciou à empresa loteadora
responsável pelo terreno, a degradação do Sambaqui. Em 1984, uma nova
denúncia foi feita pelo presidente da Associação Comunitária da Praia de Xangrilá ao Diretor do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Arqueológico
Nacional), relatando a delapidação do Sambaqui pela loteadora proprietária do
terreno. Nessa ocasião, acrescentou-se que, em junho de 1983, ocorreu o corte
de cerca de 20 árvores e a abertura de uma nova rua, denominada Rua Rio
Apucaé, ocasionando a destruição da porção leste do sítio.
Como consequência dessa denúncia, o arqueólogo Prof. Arno A. Kern, líder do
Departamento de História do IFCH/UFRGS, empreendeu uma escavação no
sambaqui durante o ano de 1984. Ao longo do processo, ele validou as
informações de que o sítio era habitado por grupos sambaquieiros e horticultores
do planalto, que o usavam em diferentes épocas. Isso indica que houve períodos
de intensa atividade e utilização do sítio, intercalados com momentos de
ociosidade.

Figura 01: Perfil estratigráfico realizado no Sambaqui de Xangri-lá - RS-LN-19. Reproduzido e
estilizado de Kern (1985).
Fonte: Jade Mayer Calife, 2024.

Uma outra investigação foi conduzida em 2014, quando o IPHAN contratou um
projeto para a preservação dos Sambaquis Guará e Capão Alto. A empresa
SAPIENZA - Pesquisa e Gestão do Patrimônio Arqueológico Ltda., ficou
encarregada de realizar a pesquisa arqueológica, com o objetivo principal de
delimitar a área atual do sítio.
No Relatório Final da Prospecção Arqueológica Interventiva nos Sambaquis de
Vila Guará e Capão Alto, RS, foi apresentada a delimitação da área remanescente
dos sítios arqueológicos, obtida por meio de sondagens e escavações. A
investigação constatou que as evidências de alteração e depredação do sítio são
visíveis, concluindo que o Sambaqui era de fato maior em 1985, durante a
pesquisa de Kern.
Com o intuito de determinar em qual período o sítio foi ocupado, foram coletadas
amostras de vestígios orgânicos para realizar datações por carbono-14. Esse
método de datação é amplamente empregado na arqueologia e na geologia para
determinar a idade de materiais orgânicos.

Por meio dessa técnica, foi possível identificar e associar um período cronológico
específico à primeira ocupação do sítio arqueológico Capão Alto. A amostra
datada correspondeu ao nível mais profundo de amostras arqueológicas do sítio,
remontando a cerca de 4.400 anos antes do presente., indicando assim, que este
é um dos sítios arqueológicos mais antigos do litoral do Rio Grande do Sul.

ANX Engenharia e Arqueologia
Arqueólogo Coordenador Almir do Carmo Bezerra
Arqueólogo Coordenador de Campo Nicollas Michell Bandim Fernandes

Colaboração
Ilustração Arqueóloga Jade Mayer Calife
Revisão de Texto Arqueóloga Maria Fernanda dos Santos Barros Correia
Organização Arqueóloga Marina Souza Barbosa

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MILLER, Eurico Theófilo. Pesquisas arqueológicas efetuadas no nordeste do
Rio Grande do Sul. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1967.
Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi, n. 6.


KERN, A. Sondagens no sítio arqueológico de Xangrilá: uma
experiência didática em arqueologia de salvamento. Revista da UFRGS
13:84-110, Porto Alegre, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 1985.


MENTZ RIBEIRO, P. A. Breve notícia sobre a ocorrência de zoólito no
sambaqui de Xangri-lá, RS, Brasil. 35-44, 1982.


SAPIENZA. Prospecção Arqueológica Intensiva junto aos Sambaquis de
Vila Guará e Capão Alto, RS. Sapienza Arqueologia e Gestão Do Patrimônio. N.º do Processo/IPHAN: n.º 01512.003282/2014-01, TubarãoRS, 2015.

Antônio Carlos da Silva Pinto, Presidente da Associação Comunitária da
Praia de Xangri-lá. Denúncia feita pela Associação Comunitária da Praia de
Xangrilá. 1984. Documento protocolado no processo nº 01512.000489/2019-
21. SEI: 1326930. Disponível em:


https://sei.iphan.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consult a_externa.php?9LibXMqGnN7gSpLFOOgUQFziRouBJ5VnVL5b7- UrE5SVVxW_JkereS84uLR9tYilNut-xYogY6a0qhHt1g6gITkHaEDtUOsCCchBoFxlgbtGlSuOvOV1gFuUn_aBe3p. Acesso em: 21 nov. 2024.

Acesso em:
21 nov. 2024.

SAIBA MAIS:
Documentário "12.000 Anos de História - Arqueologia e Pré História do RS":
https://www.youtube.com/watch?v=qgKyUJLbF6k&t=47s


O que é um Sambaqui?:
https://www.museunacional.ufrj.br/dir/exposicoes/arqueologia/arqueologia-brasileira/sambaquis.html


Guia didático sobre arqueologia e sambaquis:
https://www.livrosabertos.abcd.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/366
/322/1326


Jogo “Sambaquis: Uma história antes do Brasil”:
http://www.arise.mae.usp.br/sambaquis/


Sambaquis no Rio Grande do Sul, Prof. Dr. Fabricio J. Nazzari Vicroski:
https://arqueologiaupf.wordpress.com/2021/06/24/pre-historia-de-xangrila/

Leitura indicada para saber mais sobre Xangri-lá e o sítio Capão Alto: “Raízes
de Xangri-lá”, obra de 2016 organizada por Véra Lucia Maciel Barroso,
Marisabel Mello Flores, Driele Gomes Christóvão Anacleto, Catiúscia da
Silva Venancio e Andrea Simoni Rech.


Leitura indicada para saber mais sobre sambaquis, livro “Sambaqui:
arqueologia do litoral brasileiro”, de Madu Gaspar.

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